Anteontem quis escrever sobre o Natal, mas não esbocei um gesto sequer quando as palavras me vieram. Ficaram um tempo dançando ciranda na minha cabeça, evocaram imagens... Como não esbocei um gesto, desmancharam-se, dispersaram-se, foram-se.
Contudo lembro que pensei na árvore de Natal não só da minha infância, mas a única que tivemos. Um cabo de vassoura preso a uma base circular de metal (pesada!), algumas barrinhas de ferro (finíssimas) fincadas pelo corpo do cabo. Depois, pintou-se a base de vermelho, os ferrinhos de preto; encapou-se tudo com papel celofane verde e... voilá! Mal dezembro raiava, era só decorá-la com as mesmas bolas coloridas de todos os anos, algumas tiras de algodão, e pronto. Ah! Havia também o resistente conjunto de luzinhas pisca-pisca e também uma grande estrela amarela no topo.
Tristes natais. Papai Noel nunca falhou, sempre ganhei alguma coisa, geralmente o que não pedia - nunca pedi um violão, uma máquina de escrever (sim, eu convivi jurassicamente com máquinas de escrever!), bonecas, loucinhas de brinquedo...
Tristes natais. Comida especial, presentes, discussões, lágrimas. Solidão. E nas noites de Natal afora a mesma sensação de estar vagando por uma rua deserta e muito fria, à parte do tal espírito do natal singrando pela cidade.
Violão? Bonecas? Roupa nova? Eu só queria uma única noite de sorrisos e afeto. Uma noite terna como o olhar de Maria repousando sobre o Menino Deus na manjedoura.