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outubro 02, 2009


     O primeiro livro de Manoel de Barros que li foi Livro de Pré-Coisas (roteiro para uma excursão poética no Pantanal). Lembro que comprei num sebo, um sebo de calçada, em 2005. Soube da existência do poeta matogrossense por meio de uma entrevista com a atriz Cássia Kiss (ela falou dele de maneira tão comovida, fiquei  curiosa).
     Rico em imagens ora deliciosamente naturais, ora quase oníricas, a obra construiu em mim lembranças de varandas abertas para o mato, para rios, para todo um universo de sons, cheiros e cores, uma cadeira de balanço e um homem a compartilhar seu olhar de velho sábio, tranquilamente.

   O que eu faço é servicinho à-toa. Sem nome nem dente. Como passarinho à-toa. (...) Afora pastorear borboletas, ajeito éguas pra jumento, ensino papagaio fumar, assobio com o subaco. Serviço sem volume nem olho: ovo de vespa no arame.


   Penso quem têm nostalgia de mar estas garças pantaneiras. São viúvas de Xaraiés? Alguma coisa em azul e profundidade lhes foi arrancada. Há uma sombra de dor em seus voos. Assim, quando não de regresso aos seus ninhos, enchem de entardecer os campos e os homens.


Minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem.

(Livro de pré-coisas - Philobiblion Livros de Arte, 1985)

     Coloco agora aqui um dos poemas de Manoel de Barros que fazem parte de A Poesia dos Bichos (Volume I - Poesia, coleção Literatura em Minha Casa, ed. Bertrand Brasil, 2002).

Bernardo é quase árvore.

Bernardo é quase árvore.
Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe.
E vêm pousar em seu ombro.
Seu olho renova as tardes.
Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho:
     1 abridor de amanhecer
     1 prego que farfalha
     1 encolhedor de rios - e
     1 esticador de horizontes.
(Bernardo consegue esticar o horizonte usando três fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.)
Bernardo desregula a natureza:
Seu olho aumenta o poente.
(Pode um homem enriquecer a natureza com a sua incompletude?)

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