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maio 26, 2010


   E Benjamim continua colhendo néctares... Já faz um tempo tenho vontade de postar alguma coisa da Jô (fragmentosdejo.blogspot.com), difícil escolher entre tanta coisa que gosto. Hoje meu olhar bateu e desaguou nesse poema, que gritou: Eu! Eu!
  
AUTO-RETRATO
Quando crescer, quero ser prosa...
uma prosa poética.
Se for difícil,
serve uma poesia prosaica.

Gosto de barulho de água,
não gosto de pessoas bipolares.
Detesto laranjado e acho que não ficaria bem sem cabelos...
 Por isso não sou budista.

Leio revistas de ponta a ponta,
uso até marcador de livro e
nem o corpo editorial passa despercebido.
Não consigo largar um livro no meio.
Falando neles, já comprei pela capa,
já dei de presente e me arrependi.
Queria um perfume com cheiro de livro novo.

Não sou católica.
Sou covarde, segundo Dawkins.
Tenho déjà vus e não sei explicá-los.
Temo o que não entendo.

Não concordo com Drummond às vezes,
mas sempre me delicio lendo-o.
Rubem Fonseca mexe com meus instintos,
por sorte meu inconsciente sabe guardar segredos.

Prefiro dias nublados e ensolarados.
Não gosto de elevadores.
Não uso tênis nem jeans.
Não sei se me namoraria.
Angustio-me com pouca coisa
e choro por menos ainda.

Tenho o pensamento fragmentado...
minha lógica nem sempre é muito lógica.
Não tolero que me subestimem
e tenho medo do contrário.
Tenho medo de muitas coisas,
mas poucas me paralisam.

Tenho um diário não diário,
não gosto de obrigações...
nem de rimas e formas fixas.
Sempre uso agenda até os três primeiros meses do ano,
depois as abandono numa gaveta qualquer.
E não tenho paciência de Jó.
O meu acento é circunflexo.

Tenho dúvidas, muitas dúvidas
e nenhuma certeza.
Mas quem precisa delas?


Miau!


  • O gato é o único animal doméstico que a Bíblia não menciona.
  • Eluro (ou aílouros) é palavra do grego antigo que significa gato, e por isso os elurófilos são aqueles que adoram gatos.
  • Phobos é palavra do grego antigo que significa medo. Portanto elurófobos são aqueles que têm medo incomum de gatos ou aversão por eles.
  • Por 2.300 anos as pessoas acreditaram que os gatos tinham mais que uma vida. No livro de fábulas sobre animais Panchatantra, compilado na Índia no século III a. C., o escritor supôs que os gatos, por conseguirem sobreviver a grandes quedas e atrocidades, deviam ter a capacidade de viver várias vezes.
  • Os egípcios antigos nunca mostravam gatos dormindo em suas obras de arte. Como os gatos eram adorados pela sabedoria, os artistas só os retratavam em posição ereta.
  • Quando os gatos semicerram os olhos ao olhar para você, é indício de confiança.
  • Se um gato se limpar logo depois de você tê-lo acariciado, não se ofenda. É o jeito dele de guardar o seu cheiro.
  • Ao contrário dos cachorros, tão ligados às pessoas que acabam assimilando os tiques emocionais e os medos dos donos, os gatos têm uma noção melhor de limites - são mais independentes emocionalmente e, por isso, se mantêm firmes diante das fraquezas humanas.
  • O gato pega água com o lado de baixo da língua, não o de cima, como se imagina. Ele enrola a língua ao contrário, como se fosse uma colher, e leva a água à boca.
  • São Francisco de Assis foi o responsável pela mudança da imagem dos gatos, no século XIII. Por causa do apreço do santo por eles, os artistas da época deixaram de vê-los como entidades satânicas e passaram a pintá-los com uma imagem mais simpática.
  • Já que o romrom é uma forma de comunicação do gato, ele não ronrona quando está sozinho, nem que esteja muito feliz e bem acomodado. O romrom dele só existe para você. 
                                             (De Os gatos nem sempre caem em pé, Erin Barret e Jack Mingo, Publifolha)
                         
                                          * Imagem: Tela de Aldemir Martins

LOVE CATS (The Cure)

maio 16, 2010


    Benjamim resolveu tirar o dia pra postar algumas palavras de outras flores. Palavras que dizem, palavras que tocam...


Sou da arte
Sou desses que respeitam o palco
Sou dessa gente que ganha pouco
Faço parte desses loucos, apaixonados
Cada dia mais me convenço que sou da arte
Desses que choram de vez em quando
Ou gargalham uns com os outros
Eu acredito na minha arte
Na rua, no picadeiro
Me fiz atriz, palhaça, errante
Passei a crer na cultura, no belo, no estranho
Eu me fiz estranha
Me fiz olho no olho
Me fiz várias, para provocar meu público
Me refiz o que sou
Me fiz da arte
E dela hoje sou.  (Andréia Flores)


   Dela eu herdei a labuta, a febre pelo bem-estar do outro, os dedos longos desprovidos de cansaço, o riso fácil e despretenciosamente simples, e essa capacidade de resistir ao tempo e às tempestades apesar do choro.
   Dela eu recordo o rosto sempre geladinho de suor, o gostar de dormir profundamente, a enxaqueca, a sopa de legumes, as providências necessárias para o ajuste das horas, a prontidão, o colo e a mão a mostrar-me o altar a todo instante... "Joelho no chão e rosto no pó!" - dizia ela, a me conduzir ao  misterioso lugar onde podemos pedir por tudo que precisamos para alcançar nossos largos e mais íntimos objetivos.
   Dela, minha mãe, resta em mim, hoje, o segredo que rege minha vida: o tempo de agora, a pessoa presente, o sentimento que pode ser trocado em tempo real com quem desejamos construir história...
   Impossível não lembrá-la tão doce, rígida e apaixonadamente única em forma e conteúdo. Eu, tão somente, uma forma dela permanecer conosco. (Rosilene Cordeiro)

maio 07, 2010

Tarde de chuva

   
   Sentada à mesa, pela janela aberta a minha frente assisto a chuva, forte, chicoteante. A goiabeira de copa larga dança em volteios e faz-me relembrar a suavizada euforia de brincar na chuva, pés descalços espocando poças. Simplesmente delicioso.
    Não escuto nenhum som humano porque a voz da chuva antecipa-se a tudo. Gosto tanto disso, dessa espécie de silêncio acolhedor, pleno de natureza, um cheiro único, água e mato e pedras. Nenhuma voz ferindo a hora, agredindo a vida, só a chuva e o vento conferindo ao meu cantinho um ar de retiro nas montanhas.
   Revisito outras lembranças que herdei. Quando chovia assim, como agora, e estávamos sós, minha mãe chamava para a rede e ficávamos nos embalando, ela ao meio, cantando, contando histórias do seu passado de moça do interior, anedotas e charadas. Minha mãe era mulher de piadas e charadas. "Quatro pernas, em cima de quatro pernas, esperando quatro pernas. Quatro pernas não veio, quatro pernas foi embora e quatro pernas ficou." Aliviava-me a alma. Sempre tive tanto medo de trovoadas e cia. "Bobagem... É só Deus arrumando os móveis lá em cima.", denunciava. E eu gostava de acreditar. Preciso tanto voltar a acreditar em algumas coisas.
   E as sombras bruxuleando na parede? Assombrações num cenário trovejante e relampejante, meu coração parava. Mistérios invencíveis que não resistiam quando ela trazia o meu medo para a luz (ou vice-versa). Não eram nada, revezavam-se galhos, roupas dependuradas, qualquer algo inofensivo que minha fantasia de menina que lia demais agigantava. Mas ela incentivava brincar com as nuvens, sombras brancas que já viviam na luz, singrando por uma tela azul, sendo levadas lentamente pela correnteza das horas. "Só não veja apenas carneirinhos. É tão comum..."
   A chuva passou e é tempo de enfrentar as sombras de uma caótica realidade. Os raios e relâmpagos não são mais fenômenos fantásticos e eu mal consigo inventar coisas e adulterar pequenas verdades. Não sou mais tão límpida. (T.M.)

maio 04, 2010

Manheeê!

   Corajosas, magníficas, amorosas, de braços sempre abertos (a mão nem sempre) e coração anorme - assim em geral são as mães. Egoístas, próximas mas ausentes, detestáveis, incompreensivas, donas da verdade - assim também podem ser as mães. Exageradamente maternais ou sabendo desfilar elegantemente entre o meio termo. Porque não existe mãe perfeita; com muita sorte , existe a mãe ideal (para a gente), aquela que entende, aceita e perdoa o que outra não entenderia, nem aceitaria ou perdoaria.
   Possuem uma linguagem própria. Qual o filho ou filha (da mãe, claro) que já não ouviu ao menos uma dessas pérolas: isso são horas de chegar?, quando você também tiver filhos vai saber como é, eu na sua idade...   
  Mãe que é mãe, é sempre mãe. Do bandido e do mocinho, da mocinha direita e da que saiu da linha, do pior aluno da escola e do cdf da turma, do anjinho e do capetinha, do que é tudo o que ela sonhou e do que pariu seus próprios sonhos (oh, atrevimento!).
  Ser mãe não é exibir título de propriedade do filho. Sendo a representação viva do que seja o amor sem compromisso, dado de graça, sem subterfúgios, máscaras ou meias-palavras, aceita-se até que seja um pouco exagerada; mas faz-se necessário que se apresente sempre revestida de compreensão e muita, muita sensibilidade. Porque ser mãe não é (só?) padecer no paraíso: é acompanhar o bater asas e alçar voo dos filhos dentro das próprias possibilidades. E algumas impossibilidades. (T.M.)