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setembro 29, 2009


 "Eu não sabia
 que se virar pelo avesso
 era uma experiência mortal" (ANA C.)




lá fora já se vão quinze horas
aqui dentro penumbra fria  
sem café nem creme dental

tocada pelo tédio
extraio versos de outros versos
que não são pecados meus
confesso: invejo Cristina C
tão loura e frágil
divindade incompreensível
todas as palavras do mundo
na palma das mãos
borboletas translúcidas e ágeis



setembro 17, 2009

As flores

     De O livro dos abraços, Eduardo Galeano, escritor uruguaio:

     O escritor brasileiro Nélson Rodrigues estava condenado à solidão. Tinha cara de sapo e língua de serpente, e a seu prestígio de feio e sua fama de venenoso somava-se a notoriedade de seu contagioso azar: as pessoas ao seu redor morriam de tiro, miséria ou infelicidade fatal.
     Certo dia, Nelson conheceu Eleonora. Naquele dia, dia do descobrimento, quando pela primeira vez viu aquela mulher, uma violenta alegria atropelou-o e deixou-o abobado. Então, quis dizer alguma de suas frases brilhantes, mas as pernas bambearam e a língua se enrolou e não conseguiu outra coisa a não ser gaguejar ruidinhos.
     Bombardeou-a de flores. Mandava flores para o apartamento dela, no alto de um edifício do Rio de Janeiro. A cada dia mandava um grande ramo de flores, flores sempre diferentes, sem repetir jamais as cores ou aromas, e ficava esperando lá embaixo: lá de baixo via a varanda de Eleonora, e da varanda ela atirava as flores na rua, todos os dias, e os automóveis as esmagavam.
     E foi assim durante cinquenta dias. Até que um dia, um meio-dia, as flores que Nelson enviou não caíram na rua e não foram pisadas pelos automóveis.
     Naquele meio-dia, ele subiu até o último andar, apertou a campainha e a porta se abriu.

setembro 15, 2009

BORGINIANO

    O velho cego, de costas para a janela cortinada, perscruta a si mesmo e refaz seu caminho, enquanto sons cotidianos dançam ao seu redor.
    Porém, nada soa como o rumorejar das palavras brotando das paredes, deslizando pelo chão - não negras: multicores, multifacetadas. Reconhecem-no vítima e senhor, lambem-no, assediam-no, mergulham em suas veias azuis, transmutam-se em sangue redivivo, percorrem sua flacidez e adiposidade.
    E faz-se a luz.

setembro 13, 2009

                    Era uma vez dez peixinhos coloridos mergulhados num profundo azul virtual. Seguiam pra lá, seguiam pra cá, sem rumo, sem motivação, sem glub-glub...
                       Até que, uma noite, apareceu um cursor - é, um cursor, uma setinha branca - e começou a passear pelo azul. Lá-lá-ri-lá-ri-lá...
       Ah, os peixinhos enlouqueceram e se puseram a seguí-lo, agrupados e trelosos. O cursor levou-os a um bailado pelas bordas, pelo centro do aquário, súbitos amigos de infância. E a eternidade pareceu tão possível quanto aquele pedacinho de oceano (um simples gadget num blog)...
          Meus olhos e minha mão direita ficaram maravilhados e meu coração velho de guerra inundou-se de inocência e também ficou azul, azul.
Fuja das tentações, mas... bem devagar, 
para que elas possam te alcançar...

setembro 12, 2009

                              
                                  a felicidade tem essa coisa de simplicidade,
                              de momento cristalizado,de beleza indefinível

              mistério

setembro 10, 2009

VINCENT

Van Gogh cortou uma orelha
porque tinha duas
                    mas
quando se olhava no espelho
via três                        (T.M.)

setembro 09, 2009

Momento No. 1

Bem, aqui estou.
Território desconhecido.
Começo a andar, incerta ainda, sobre as palavras-pedras
que brotam do chão.
Tropeço, sim, normal.
Quero povoar esse deserto.
Quero preencher os espaços desse teatro, não importa se pequeno, simples, cru.
Uma nudez a ser decorada: desafio.