BEM-VINDOS E OBRIGADA PELA VISITA.




NOTÍCIAS *INFORMAÇÕES * DISTRAÇÕES * IMPRESSÕES * PULSAÇÕES

dezembro 24, 2010

Uma historinha de Paulo Coelho


   Nossa Senhora, com o menino Jesus nos braços, desceu à Terra para visitar um mosteiro. Orgulhosos, os padres fizeram fila para homenageá-la; um declamou poemas, outro mostrou iluminuras para a Bíblia, outro recitou o nome dos santos. No final da fila estava um padre humilde, que não tivera chance de aprender com os sábios da época. Seus pais eram pessoas simples, que trabalhavam num circo. Quando chegou sua vez, os monges quiseram encerrar as homenagens, com medo de que ele comprometesse a imagem do mosteiro. Mas também ele queria mostrar seu amor pela Virgem. Envergonhado, sentindo o olhar reprovador dos irmãos, tirou umas laranjas do bolso e começou a atirá-las para o ar - fazendo malabarismos que seus pais lhe haviam ensinado no circo. Foi só então que o Menino Jesus  sorriu, batendo palmas de alegria. E só para ele a Virgem estendeu os braços, deixando que segurasse um pouco seu filho.
                                                                                  
(Do livro Maktub)

   Nada a comentar; só a sentir. O tempo é de travessia e de espera (vezenquando sem esperança), de silêncio, de reflexão. O tempo é mais forte, senhor absoluto de todas as respostas... Mas então é Natal. Deixe-me contemplar o aniversariante.

dezembro 13, 2010


   Dizer adeus aos sonhos. Dor. Que falta de ar. A mulher, sentada no toco de árvore (era uma ameixeira), observa o pedaço de terra que não é mais seu. Tanto que brincou e fantasiou por ali quando menino e menina. Longe esse tempo. Não há mais nada. Só a terra. Nem os sonhos não há mais. Não há mais tempo? Força? Alma para tanto? Não sabe. Só sente que dentro de si espalha-se uma aridez lenta mas incontrolável. Percebe a hora de aprender a se bastar com relampejos de felicidade e mínimas realizações - não um pomar: uma árvore; não um teatro: um invisível tablado; não uma vida sua, única: dividida, em rédea. Andou pensando demais nos outros (que foram indo, indo, e também o tempo, irrecuperável). Restou esse momento de olhos molhados no fim de tarde, a terra que não é mais sua diante de si, nua. Vergonha e cansaço de não ter sabido viver, comer a vida e não ser tragada por ela. Que incompetência.
   Dor. E essa falta de ar. Que fome de sonhos. Vontade de saber onde permitiu o desastre, onde o trem de sua vida descarrilou e desde então ela jaz à beira da estrada.
   Um jardim, talvez, quem sabe, um pequeno jardim... Precisa tentar presentear a esta vida ao menos um pequeno jardim. Ah, saudade do tempo dos anjos e das fadas e dos piratas e das tantas vidas que um dia acreditou possíveis. (Telma Monteiro)