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março 01, 2011


   Tenho uma biblioteca (será necessário dizer "particular"?). Pequena, por volta de - o quê? - mil e quinhentos, dois mil livros, por aí. Sou muito orgulhosa dessa posse.
   Lembro da primeira biblioteca que vi, a do meu primeiro colégio; fiquei fascinada. Desejei ter uma - ou seja, não só quis; de-se-jei. E penso que isso fez toda a diferença. Quis muito nessa vida; desejei bem pouco.
   Cedo comecei a guardar o dinheiro do lanche para comprar livros ou discos. Alguns comprei de olhos fechados. A Morte de D. J. em Paris, do Roberto Drummond, foi um deles. O estilo foi um baque para uma leitora de clássicos até então. É um dos meus livros do coração, tipo aqueles 'que se levaria para uma ilha deserta'.
   Outros dois comprados à custa de secretas economias foi O Jardim Selvagem, de Lygia Fagundes Telles (amo!),  e Laços de Família, de Clarice Lispector (deusa!). Capa dura, azul-escura, letras (que um dia foram) douradas, faziam parte de uma coleção. Umas preciosidades, minhas felicidades clandestinas! E houve um, muito especial, meu primeiro Fernando Pessoa (que veio antes do Roberto Drummond, da Lygia e da Clarice): O Eu Profundo e os Outros Eus. Tenho-os comigo até hoje, deuses da biblioteca. Amarelados, sublinhados aqui e ali (gesto incontrolável), muito usados. Muito amados. 
   Outros foram vindo através dos anos, pelos mais diversos caminhos e por mãos outras... Mas a maioria saiu de sebos, garimpados com todo prazer e paciência; e o encantamento diante da obra resgatada, encontrada, descoberta justificou o tempo (perdido? Não!). Descobri-me além de leitora, bibliófila - gosto de tocar o livro, cheirá-lo, sentí-lo perto de mim, vê-lo em meio aos outros, vê-los juntos, amontados, apertando-se em fileiras, cores diversas, delicados ou imponentes.
   Sim, são muitos livros, mas nem todos que já li estão aqui. Alguns se foram sem eu saber, outros foram presenteados com todo o gosto, e uns poucos foram invadidos e devorados por tribos de cupins e traças. E há tantos, tantos mares de linhas e entrelinhas não lidas, que me bate um misto de tristeza e desespero: terei ainda tempo? Um livro precisa ser lido para ter sentido, para justificar-se. Precisa ser aberto, navegado página a página... Haverá tempo? (Telma Monteiro)

                          * Imagem: Livros, de Vincent Van Gogh