O que dizer de Clei de Souza? Tempos atrás postei um poema sobre/para ele. Tenho-o, sem dúvida alguma, como um dos meus poetas preferidos. Comprei muitos dos livrinhos que ele mesmo produzia e vendia. Tive o privilégio de tê-lo como instrutor em uma oficina de criação literária. Recentemente, Clei lançou um livro de contos.
Então, pra quem ainda não conhece os versos do Clei, aí vão alguns.
último desejo
todo beijo que seja
com a força do derradeiro
pois a morte se esconde na vida
e os beijos (desde o primeiro)
já escondem consigo a despedida
poema extraído de uma afronta
não olho
(que não sei só olhar)
não falo
(que não sei só falar)
não toco
(que não sei só tocar)
se não for para ser tudo
me deixe só
quieto
mudo
vocação
minha mãe me queria médico
(curar e ser alguém na vida)
que ironia vir a ser poeta
não há quem saiba como eu
fazer ferida
carnívoro
este corpo e estes olhos
que um dia a terra há de comer
ainda hão de comer muitos corpos
como a voz do mar
cabe
na concha?
era dos cyborgs
- máquinas não choram nem se chocam!
- que queres dizer, poeta?
- preste atenção:
a cada minuto morre uma criança no Brasil!
mulheres, homens e crianças foram mortos
a mando do estado e do latifúndio!
uma família almoçou um seio cancerígeno!
- e daí?... que queres dizer com isso?
- repito... máquinas não choram nem se chocam!
confessionário
tu me sussurras no ouvido
tudo o que a tua libido sonha
e os deuses se te ouvissem
morreriam de inveja ou de vergonha
ácido lírico
ou a poesia morreu,
mas o policial disse que foi porque ela reagiu