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novembro 21, 2010

Efeito de um dia nublado


   Devo começar assim: adoro dias nublados. O tempo recolhido, como se em fazenda, dia não totalmente nascido. Céu prometendo: qualquer hora a chuva vem - ou não. Gosto é da promessa, da perspectiva, da esperança.
   Nunca mais, nunca mais acordei com manhãzinha já vestida de chuva, aquela chuva meio displicente mas intermitente, delicadeza musical no telhado. Quando criança, dia presenteado assim era dia de não ir pra aula (escola longe...); dia de ficar mais tempo na cama, ler gibi, ver desenho na tv, tirar pijama só mais tarde, assistir da janela as sombrinhas passando, as pessoas recolhidas em si mesmas.
   Havia um quintal e havia um jardim na minha infância e eu bem gostava de ver as gotas caindo sobre as cores, e também de espalhar barquinhos de papel pelos caminhos de água que formavam filetes de correnteza. E lá ia o meu barquinho de folha de jornal, de folha de caderno, e logo outro, e outro, todos singrando para a rua, frágeis e destemidos... Seu porto de chegada, uma ilha chamada Mistério. Tantas vezes me aventurei por lá; mas agora perdi o mapa. (Telma Monteiro)

3 comentários:

  1. Tão singelo!Coisas singelas me trazem uma felicidade momentânea...

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  2. Ai, Telma... Assim você acaba comigo...
    Meu quintal tinha muito mato, desse que cavalo come, e meu pai criava muitas galinhas dentro de casa os cheiros são muito presentes... Quando algum espírito de porco ler falará que o cheiro é de merda (mas, felizmente, eles estão bem longe de seu blog, mas não é apenas isso: as galinhas tem um cheiro que transcnde a merda... um quê de mofo, outro que de tempo que passa depressa, como a vida delas mesmas quando meu pai as passava na faca... era deprimente, mas muito saboroso... O capim tinha varios cheiros: o da lama preta (golosa; com "O" mesmo) que ficava por baixo, o cheiro que levantava quando caia a chuva; o cheiro dele quebrado quando a gente corria em nossos brinquedos insanos (quais brinquedos não o são?); o cheiro de lugares onde não voltarei, pois, embora digam que o tempo não existe (os físicos pobres de espírito), isso não facilita voltar...
    Beijos, Telma, você acaba comigo...
    (adorei o barquinho de papel do post)
    ...o cheiro de lugares onde não voltarei...

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  3. Que lindo, Telma!
    ... me senti passageira deste barco. E me banhei nessa chuva fina que inundou meu quintal com tantas e doces lembranças.
    Bjs.
    Estela

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