A moça com olhos de jabuticaba lembrou que tivera um pé de laranjeira na infância, que só lhe dera duas coisas: a esperança de um dia ver uma flor, branca, cerosa, de cinco pétalas... e muitas formigas!
As formigas... Meus fracassados pés-de-milho só me deram isso também, nada mais. Contudo, a esperança alimentada pelo sonho das flores de laranjeira, moça, isso não tem preço, não foi inútil, jamais em vão. Perfumou aquele tempo.
Porque esperança é algo maior do que uma simples longa espera. Não é somente esperar alguém chegar, por exemplo, com eternidades de atraso. É alimentar-se de uma possível (ainda que hipotética) chegada. De um possível (ainda que incerto) sorriso. De que uma inesperada e feérica (adoro a palavra!) descoberta aconteça, afinal (assim: meu Deus, você estava aí, todas as voltas do relógio, e eu não te vi; você estava aí, como quem não quer nada, mas me querendo tanto, e eu não te senti; você estava aí e eu aqui, e nós...).
A esperança não é uma espera vazia, distraída ou monótona. Ela rege o impossível, o amanhã, o inesperado, o improvável - e guia nossa crença, fazendo-nos até ignorar a lógica. A esperança tem vida própria e não teima, mas naturalmente insiste, sutilmente resiste. Inexplicável.
Faço de conta que não sei da ainda viva esperança de ver vingar uns pés-de-milho e, de brinde, ensolarados girassóis. E agora, eis que quero também flores de laranjeira, para não me deixar enlouquecer e me fazer dormir. (T. M.)