Curiosidade. Transe hipnótico. Aflição. Essas sensações, exatamente nessa ordem, pulsaram-me diante da viagem cênica Em Algum Lugar de Mim. Corpos e luzes ante meus olhos, a compor um quadro fluente e feérico. Três condenados aprisionados numa espécie de ondulação do tempo, atravessando portais, procurando-se e reencontrando-se, ora infantis, ora ensandecidos, ora simplesmente adultos juntos mas em solidão.
Para o talento e a visceralidade artística bastam um pouco espaço, velas, latas, fósforos, arames. O resto são vozes, suor, cabeleiras, catarse, pequenas chamas, sombra e escuridão. Doçura e delírio nas palavras iguais e renovando-se, experimentando tons, cores, vidas. Verbo e luz.
A cortina translúcida se fecha e me deixa uma sensação de alívio: ufa, estou livre para voltar à realidade normatizada. Mas e essa estranha saudade dos momentos de vertigem?
(Com o pensamento em Os Avuados do Teatro, Belém/PA)
* Emociono-me, logo existo.